Reflexões

31/01/2020

CONSTRUTORES DE MUROS 11

Para serem Construtores de Muros, os pais, principalmente, e os cristãos que atuam como professores de crianças, precisam reconhecer o poder sobrenatural de Deus, o poder da Palavra de Deus e o poder da graça de Deus.

As crianças estão crescendo numa sociedade marcada pelo egoísmo, pelo hedonismo e pelo misticismo, crendo com extrema facilidade em tudo o que se apresenta como misterioso e sobrenatural, e com uma tendência ao sincretismo nunca vista.

Há um reavivamento muito forte do interesse por assuntos considerados espirituais: visões esotéricas, êxtases fascinantes, maravilhas, sinais, meditações transcendentais, buscas mais profundas de espiritualidade, contatos com seres angelicais, contatos com seres extraterrestres, experiências paranormais, desenvolvimento intuitivo, percepções divinas, revelações especiais etc.

O grande interesse por religião e a facilidade dos meios de comunicação permitem um intercâmbio cada vez maior de práticas religiosas entre os povos. Por meio da televisão, do rádio, dos jornais, das revistas e da internet são divulgados os mais variados cultos e tradições religiosas de todas as partes do mundo. O proselitismo é muito forte; todos estão lançando suas redes para conseguir o maior número de adeptos. Pelo desejo de crescer, e de não perder os seus próprios membros, alguns grupos lançam mão de práticas místicas. O que se observa, então, é que há multidões caindo no sincretismo.

Este sincretismo é percebido na atitude das pessoas que buscam o que há de melhor em cada experiência religiosa, e vão juntando para formar algo que funcione, que dê certo, que promova uma determinada “experiência”.

Não há o mínimo interesse com a Verdade. Pelo contrário, existem muitas verdades – eles anunciam – e cada uma delas é boa em seu próprio contexto; o que importa é a experiência em si, e alguém pode ter esta experiência agradável em toda e qualquer religião.

É muito comum hoje, líderes religiosos se apresentarem como aqueles que trazem a palavra diretamente de Deus; como aqueles que têm uma intimidade com Deus superior aos demais; como aqueles que têm a força da oração mais poderosa; como aqueles que podem identificar os que estão doentes e administrar a referida cura; como aqueles que sabem lidar com os demônios. Apresentam-se como seres quase sobrenaturais, que podem ministrar a cura, o perdão, a prosperidade, a libertação etc. Esta auréola de misticismo impressiona e atrai as multidões. Este Neo-esoterismo, está presente de forma cada vez mais patente em toda parte de muitas maneiras: venda de produtos místicos, viagens a lugares místicos, palestras espiritualistas, rituais coletivos, medicinas alternativas etc.

As crianças são envolvidas por meio dos desenhos animados, dos games, dos jogos, das músicas, do folclore, da literatura etc. E incutem temas ligados ao sobrenatural, tais como comunicação com os mortos, reencarnação e satanismo mesmo!

Mais recentemente os esotéricos estão falando muito sobre crianças índigo. Esse nome tem a ver com à cor da aura dessas crianças, que estão nascendo desde o final do século passado. Baseados na doutrina da reencarnação afirmam que essas crianças são seres numa esfera de evolução mais alta e que estão reencarnando para fazer as mudanças para a melhoria da vida aqui na terra.

São crianças superiores, fascinantes, fantásticas, fabulosas e que têm percepções de realidades tais como a de verem anjos, a de preverem acontecimentos e a de viver num mundo imaginário em contatos com fadas e bruxas.

Interessante a facilidade com que tantas pessoas aceitam (e acreditam) estes discursos confusos, ilusórios e nocivos. Como alguém pode assimilar mensagens cativantes e ilusórias, virando as costas para a realidade e a verdade, para se deixarem dominar por uma fantasia? Essa atitude nos leva a concordar com uma frase de G. K. Chesterton: “Quando as pessoas não acreditam em Deus, não é que elas não acreditam em nada, elas acreditam em qualquer coisa.”

Ao aceitarem essa teoria da criança índigo, os pais acabam contemplando os seus filhos, como uma espécie de “deuses”, a quem precisam considerar como seus instrutores. Que loucura é essa de achar que os filhos é que devem ensinar os pais que os filhos é que devem abençoar os pais; e que os filhos são os portadores de uma sabedoria superior a quem os pais devem se submeter. Trata-se de um louco delírio.

Misticismo, Neo-esoterismo, nova era, movimento holístico – são os nomes que marcam esta época. Há uma verdadeira sedução em todos os níveis da sociedade, como se toda a humanidade estivesse sendo preparada para uma só finalidade: participar de uma religião mundial, e adorar o filho da perdição, “o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus, ou objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus” (2 Ts 2:3-5).

A Palavra de Deus afirma, de maneira a não deixar nenhuma dúvida, que a manifestação desta pessoa, o iníquo, será “segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais e prodígios da mentira, e com todo engano da injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos” (2 Ts 2:9-10).

O Rev. Elben M. Lenz César, editor da revista Ultimato, tratou deste assunto no magistral artigo intitulado “Milagrefobia”. Quanto mais falsa é uma crença religiosa, mais milagres anunciam. Hoje, mais do que nunca, é necessário ter medo de milagres e jamais esquecer as palavras do próprio Senhor Jesus: “Então se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! ou: Ei-lo ali! não acrediteis; porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos. Vede que vo-lo tenho predito” (Mt 24:23-25).

O que fazer, portanto, para Construir Muros de Proteção às crianças, numa época de misticismo como a nossa?

1) Reconhecer o poder sobrenatural de Deus.

O Deus transcendente, revelado pela Bíblia, está separado de tudo e de todos e age sempre de acordo com Sua vontade, que é Soberana.

O poder de Deus não está sujeito a nenhum tipo de lei ou esquema que alguém possa pretender descobrir ou encontrar. Não é possível alguém alegar conhecer uma fórmula mágica, um ritual, uma oração, uma determinação positiva, ou seja, lá o que for, que infalivelmente possa “manipular” Deus para que Ele produza algum tipo de milagre.

Deus realiza milagres, sim, porém unicamente de acordo com Sua vontade soberana. A própria origem deste Universo é um milagre, e foi Deus quem o criou; mas, vamos atentar para outros milagres, igualmente ou até mais importantes:

  1. a) a justificação pela fé, que é a salvação da penalidade do pecado – o perdão dos pecados com base na Obra perfeita realizada por Jesus Cristo na cruz do Calvário;
  2. b) a santificação, que é a salvação do poder do pecado – a presença do Espírito Santo realizando Sua obra no coração do crente;
  3. c) a glorificação, que é a salvação da presença do pecado – a transformação deste corpo corruptível, que ocorrerá na segunda vinda de Cristo, quando os salvos que estiverem na sepultura ressuscitarão e os salvos que estiverem vivos serão arrebatados para encontrar com o Senhor, nos ares.

É preciso reconhecer, ainda, o poder sobrenatural de Deus, olhando para o Senhor Jesus Cristo e considerando os seguintes fatos:

  1. a) Seu nascimento virginal – “O Verbo se fez carne”.
  2. b) Sua humanidade perfeita – “E habitou entre nós”. Sem mancha de pecado, em perfeita obediência
  3. c) Sua morte vicária – “Àquele que não conheceu pecado, Ele o fez pecado por nós”. Jesus foi nosso substituto, pagou o preço para a redenção, derramando o Seu precioso sangue.
  4. d) Sua ressurreição gloriosa – Era impossível que Ele fosse detido pela morte. A suprema força da grandeza do Poder de Deus foi exercida em Cristo, levantando-o dentre os mortos.
  5. e) Sua ascensão, para assentar-Se à destra da Majestade nas alturas – Lá no trono, no comando deste universo, está AQUELE que sustenta todas as coisas pela palavra do Seu poder. Ele é o Advogado e o Sumo Sacerdote do crente, e faz todas as coisas contribuírem para o bem daqueles que amam a Deus e que são chamados segundo o Seu propósito.

Numa época de misticismo “milagreiro” como a nossa, é necessário reconhecer e anunciar o poder sobrenatural de Deus.

2) Reconhecer o poder da Palavra de Deus.

Tristemente, observamos que a Palavra de Deus tem sido deixada de lado. Apesar de ser um dos livros mais vendidos em todo o mundo, poucas pessoas leem a Bíblia diariamente e nela meditam.

Note que, conforme se lê em 2 Ts 2:9-12, a “operação do erro”, que leva as pessoas a darem crédito à mentira, acontece exatamente porque os homens rejeitam a verdade, isto é, não amam a verdade. A Palavra de Deus precisa ser amada, meditada, estudada, vivida e pregada.

É para dias como os nossos que se aplica a recomendação do apóstolo Paulo: “Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” (2 Tm 4:2-4).

Se analisarmos, com bastante cuidado, as mensagens que ouvimos hoje em dia, vamos perceber como é raro o tipo de pregação que expõe e segue exatamente o texto e o contexto lido. É verdade que algumas mensagens têm conteúdo bíblico, embora não sigam exatamente um determinado texto da Bíblia. Entretanto, uma boa parte do que se prega nem pode ser classificada como uma mensagem, de fato, bíblica; o que se expõe são muito mais mensagens psicológicas, estimulando a autoestima e a autoajuda. As pessoas, hoje, querem ouvir mensagens confortadoras, que produzem alegria, bem-estar, satisfação, uma sensação agradável, um senso de triunfo, algo sensacional.

Por outro lado, quando a Bíblia é fielmente anunciada, destacando a verdade de Deus, então a Palavra, qual espada de dois gumes, como lemos em Hebreus 4:12-13, penetra no mais íntimo da personalidade para mostrar o erro. E “não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as cousas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas.”

A Palavra de Deus expõe com clareza aquilo que o homem é, não deixando nada encoberto. A Bíblia aponta o mal, e a raiz deste. Mensagens não bíblicas acobertam o pecado, ao passo que mensagens bíblicas o expõe. E a Bíblia é, também, a única maneira de corrigir o que está errado. É um espelho que mostra o defeito, mas também tem o poder de corrigi-lo, de purificar o coração. O próprio Senhor Jesus foi quem disse: “Vós já estais limpos pela Palavra que vos tenho falado”. Que poder!

Em Tiago 1:21 lemos: “Despojando-vos de toda a impureza e acúmulo de maldade, acolhei com mansidão a palavra em vós implantada”. A Palavra acolhida no íntimo vai produzindo uma transformação total; escondendo a palavra no coração podemos ter vitória sobre o pecado (Salmo 119:11-ARC). É também o poder da Palavra que produz a própria regeneração: “a fé vem pelo ouvir e ouvir a Palavra de Deus” (Rm 10:17-ARC).

No ministério com as crianças, infelizmente, o tempo é gasto com muito teatrinho, filminho, historinha, musiquinha, lanchinho, fantochinhos, e falta ensino bíblico sério que inclua a memorização de versículos. É urgente que se levantem, em cada igreja, professores de crianças com visão e responsabilidade, que saibam transmitir lições bíblicas, com conteúdo, aos pequenos.

Só o conhecimento maior da Palavra de Deus e a prática diária de seus ensinos podem nos preservar dos erros religiosos que assolam nossa época.

3) Reconhecer o poder da graça de Deus.

Nenhum de nós pode entender, com clareza e perfeição, o que significa a graça de Deus. “Pela graça sois salvos”. Deus concede o seu favor tão imenso a pessoas que nada podem merecer.

Temos, da parte do Senhor, não somente a salvação pela graça, mas toda sorte de bênçãos em todas as áreas da vida. É pela graça que podemos viver uma vida santa e também ter vitória sobre as tentações, sobre os sofrimentos e sobre as dificuldades.

O apóstolo Paulo escreveu: “Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo” (2 Co 12:9).

Se olharmos para o capítulo 11 desta mesma carta, veremos uma lista dos sofrimentos pelos quais o apóstolo Paulo havia passado, por amor ao evangelho. É surpreendente: “…em trabalhos, muito mais; muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes. Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um; fui três vezes fustigado com varas; uma vez apedrejado, em naufrágio três vezes, uma noite e um dia passei na voragem do mar; em jornadas muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos; em trabalhos e fadigas, em vigílias muitas vezes; em fome e sede, em jejuns muitas vezes; em frio e nudez. Além das cousas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação com todas as igrejas” (1 Co 11: 23-28).

E, no capítulo 12, Paulo menciona o espinho na carne, pelo qual ele orou três vezes ao Senhor, pedindo que lhe fosse tirado. No entanto, para o apóstolo, o poder de desfrutar da graça de Deus era muito melhor do que o poder de simplesmente tirar o espinho.

Reconhecer o poder da graça de Deus é o caminho para que sejamos humildes e totalmente dependentes do Senhor.

Por causa do poder da graça do Senhor, podemos ainda encontrar razões para agradecer e louvar a Deus, quando as situações adversas e contrárias surgem, pois são nestas situações que o poder de Deus se manifesta em nossas vidas.

Numa época onde o apelo é para se conseguir saúde, riqueza, prosperidade, curas, milagres, sinais e maravilhas, há um “pequenino rebanho” (Lucas 12:32) que se contenta com a maravilhosa graça de Deus e pode assim suportar as mais variadas tribulações.

Numa época de tanto misticismo e ocultismo, como Construtores de Muros necessitamos reconhecer:

  1. O poder sobrenatural de Deus.
  2. O poder da Palavra de Deus.
  3. O poder da graça de Deus.

Que o nosso Deus nos ajude a Construir esses Muros que levem nossos filhos e nossas crianças a este mesmo conhecimento, na plena certeza de que o Senhor “é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos, ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós”;  e nossa oração de louvor seja como a de Paulo: “a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém” (Ef 3:20, 21).

Pr. Gilberto Celeti
Missionário da APEC

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